segunda-feira, 18 de maio de 2009

Até que a voz me doa!

Goooooooood morniiiing, Vietnaaaammm!!!!

Bom, nunca comecei uma emissão assim, mas vontade não me faltou. Tal a adrenalina que me invadia de cada vez que punha os headphones na cabeça e aproximava a minha boca do microfone. Foram dias de ouro, dias de rádio...

Desde pequena fui sempre muito faladora e ainda por cima falava rápido (bem...ainda falo, mas estou muito melhor…). A velocidade do pensamento sobrepunha-se à minha capacidade de fala e as palavras eram disparadas da minha boca, qual metralhadora. E no meio de tanta atrapalhação o que mais ouvia, sobretudo dos professores, era: "Elisabete, cala-te!". Grrrrrrr!!!! Odiava! Mas eis que um dia jurei vingança e prometi que haveria de falar até que a voz me doesse... E foi assim que surgiu a ponta daquela que viria a ser uma das grandes ambições da minha vida...dar a voz, dar a cara! Pela rádio, pela televisão!

Nas aulas, era sempre a primeira a pôr o braço no ar quando se perguntava "Quem é que quer ler?". Mas eu nunca lia...Declamava! Brincava, fingia, simulava, imitava...A voz que saia não era a minha, mas de uma personagem que criei. Era um faz de conta que recreava em casa, no quarto, sozinha, em frente ao espelho... Lia livros, lia revistas ou até mesmo rótulos de uma embalagem qualquer. Tudo servia de treino...A prática surgiu com a oportunidade de animar a rádio da minha escola secundária. A RTE, criada em 1900 e troca o passo pelo Rui Unas (assim parece que o Rui Unas é velho, mas eu só não sei quando foi...). E foi nessa Rádio Televisão Escolar que por 10/15 minutos era contagiada por um bichinho. Um bichinho que foi crescendo até se tornar num grande animal. Anos, castings, entrevistas, apresentações na faculdade e até campanhas de telemarketing depois (oh, sim...odiava call centers mas o trabalho em si ajudou muito na dicção e não só...) o animal rugia cada vez mais alto.

Enveredei por outros caminhos mas os currículos eram religiosamente enviados e procurava vender o meu talento como uma pílula milagrosa. E eis que em 2008 ela foi comprada...Por nem mais nem menos que o melhor grupo de Rádio em Portugal. As provas foram decorrendo e eu fui passando até que no fim só fiquei eu...Num projecto de raiz cujo claim principal era "Assim sim, vale a pena ouvir rádio!". E se valeu! Valeu a pena sobretudo FAZER rádio no meio de pessoas tão talentosas e profissionais com quem tanto aprendi. Valeu a pena eu ter acreditado que lá chegaria e terem também acreditado em mim.

Por alguns meses entrei, diariamente, em muitos lares portugueses e estrangeiros com todo o prazer e humildade. Foram das visitas mais agradáveis que fiz até hoje, que depois eram agradecidas e acarinhadas por carta, e-mail, telefone...Foram dias de ouro!

Mas o sonho foi interrompido a muito custo por uma aposta conveniente e promissora. Senti que devia aventurar-me por outros mundos e até hoje não me arrependo. Mas a saudade come-me por dentro...O que me vai saciando é eu conhecer-me bem e saber que Determinação é um dos meus muitos nomes do meio, tal como Persistência, por exemplo...Sei que o que é meu está guardado, basta que lute por isso...E por isso, hei-de voltar a fechar-me num estúdio, namorar um microfone e deliciar-me a ouvir o meu alterego...Até que o meu ouvido se canse. Até que a voz me doa…

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