segunda-feira, 27 de julho de 2009

Yabadabaduuuuuuu...!!!

O despertador toca às 7h. O trabalho só começa dali a duas horas mas a fila de trânsito ou os transportes por apanhar, obrigam a sair da cama. Desliga-se o despertador com raiva, outras vezes com tristeza. Pragueja-se e há o arrependimento por se ter dormido tarde na noite anterior e ainda a promessa que a próxima não será assim. Despede-se da cama e diz-se para dentro: "Assim que chegar a casa, deito-me!". Depois, há a rotina do banho, do pequeno almoço, para quem o toma, do escolher a roupa, para quem não o faz no dia anterior, e sai-se quase sempre a correr...Quem vai de transportes ainda tem oportunidade de dormitar enquanto o comboio/autocarro/metro pára e arranca. Ou então isso é impossibilitado pelo grupo de colegas que insiste em falar alto e força a morder o lábio, não se vá mandá-los calar ou para um sítio menos simpático. O stress acumula e ainda nem se chegou ao trabalho... Quem vai de carro, sabe que todos os dias é a mesma coisa. Ou se sai de madrugada ou é Agosto, porque a fila de trânsito há-de lá estar. Passa-se a mão pela cabeça e boceja-se uma centena de vezes. O ar de zombie ainda não desapareceu e a música ou a conversa relaxante é sempre interrompida porque as más notícias, directas de um helicóptero, dizem que há um acidente na 2ª circular, ou muito trânsito no eixo Norte-Sul. O stress acumula e ainda nem se chegou ao trabalho...

São 9h e à medida que se vai ouvindo um sonante (ou nem por isso...) "Bom dia!" dos colegas, volta-se a morder o lábio para não lançar um "Só se for para ti!". Mas isto é para os mais mal-humorados. Porque a maioria, já vem de café na mão e tomou a sua dose de morfina. Não! Quis dizer cafeína... A droga que os vai manter activos e despertos até à hora do almoço. Começam os telefonemas, as negociações, as trocas de e-mails, nem sempre com assuntos profissionais. O motor custa a arrancar mas em uma hora, sensívelmente, estará no seu máximo. Faz-se uma pausa ou duas, para mais um café ou cigarro e volta-se à carga. Quase se esquece de como custou levantar pela manhã. Afinal, o dia até está a correr bem...12h55 e já se desistiu de trabalhar. A hora ou hora e meia de almoço aproxima-se. Quando se tem de comer fora, a refeição não varia muito porque come-se quase sempre nos mesmos sítios. Quem traz almoço de casa, come mesmo no emprego e aproveita o tempo restante para dar um passeio ou tratar de assuntos pessoais. Isto quando não se está assoberbado de trabalho e nem se mastiga a comida para adiantar serviço.

Para muitos é preciso mais um café para enfrentar a tarde, que por norma custa mais a passar do que a manhã. Porque nunca mais são 18h...Mas muitas vezes são 18h tão depressa e ainda se tem tanto trabalho que é-se obrigado a ficar mais tempo, a fim de atingir os objectivos do dia. Ninguém obriga literalmente, mas também ninguém diz para não ficar ou paga mais por isso. O que vai além do devido é sempre bem-vindo. É experimentar apenas começar a arrumar as coisas mais cedo que mil olhos inquisidores se levantam...Hoje mais do que nunca percebo porque o Mr. Flintstone gritava euforicamente "Yabadabaduuuu...!", findo o trabalho, e corria sempre para casa no seu carro de pedra. Uma animação da pré-história bem futurista...E é a correr, embora novamente condicionados pelos transportes, ou presos no trânsito, que a maioria volta para casa. Mais uma ou duas horas para lá chegar...Com isto, são 19h ou 20h e ainda falta preparar o jantar, comê-lo, tratar da cozinha, ver um pouco de TV ou desfrutar da companhia da família, namorado, amigos...O ponteiro marca 23h. Para conseguir as utópicas oito horas de sono, quer dizer que são horas de ir para cama. Há quem prefira abdicar dessas horas e juntar um ginásio, um cinema, um programa mais cultural, um hobbie ou outras tarefas domésticas. Em contrapartida, pragueja-se pela manhã e deixam-se promessas por cumprir. E se a tudo isto juntarmos filhos, um companheiro, uma actividade extra para ajudar a pagar as contas, o tempo que sobra versus o que se despende para o trabalho (e vai além das 8h diárias!) é ridículo...Daí a pergunta: vivemos para trabalhar ou trabalhamos para viver? Onde ficam os trabalhos de casa do filho ou quando terá ele oportunidade de contar como foi o dia dele (ou quando haverá cabeça para o ouvir)? Onde fica a noite romântica que se prometeu à cara-metade, sem adormecer a meio? Onde está aquele tempo que gostaria de dedicar ao voluntariado ou a outra actividade que se gosta? Eu digo onde está... Esse tempo foi sugado, porque vivemos numa sociedade capitalista e sim, vivemos para trabalhar. De semana rezamos para que chegue 6ª feira, de dia rezamos para que chegue primeiro a hora de almoço e depois a hora de saída. Só mesmo gostando muito do que se faz para não pensar assim, de forma tão sistemática. E em tempo de vacas magras, fazer o que se gosta é um luxo. Há contas por pagar que não podem esperar por sonhos por realizar...

Já conheço o mundo do trabalho o suficiente para perceber como funciono nele. Já fiz de pesca e já fiz de pescador. E sei também que o peixe morre pela boca e posso ter de vir a engolir o que digo...Mas afirmo com convicção que não fui feita da matéria que aguenta a rotina, o trabalho das 9h às 18h, com uma hora para almoço, os 5 dias de trabalho versus 2 dias de descanso que passam a voar. A semana, o mês o ano que é sempre igual ao anterior e nada de muito transcendente se passa. Não vou atirar pedras à sociedade capitalista e consumista porque, no fundo, todos procuramos o mesmo: uma vida desafogada. Mas nem todos a procuramos da mesma forma. Um trabalho não tem necessariamente de dar trabalho, mas prazer. Ir ao encontro das nossas características, personalidade, ideais, modo de estar na vida...É uma questão de olhar para dentro, ter auto-conhecimento e experiência suficientes, saber aquilo que se gosta e para onde se quer ir. E quanto mais cedo se iniciar essa busca, melhor. Porque com o passar dos anos e algumas metas atingidas, as pressões aumentam bem como as expectativas. Espera-se produtividade e muitos de nós acabam por ceder às pressões e tornar-se naquilo que não queria...Um ser amorfo e autómato que não tem muito controlo sobre a sua vida pessoal, porque vive para trabalhar e assim deixa escapar um mundo lá fora...E isto não é utopia porque existe mesmo um mundo lá fora e um emprego que se ajusta como uma luva, que é feito à medida… À medida do meu eu cigano, sem horários e cheio de aventuras. Mas não é optando pelo caminho mais fácil que se chega lá. Como tudo na vida, há que ir atrás de forma incansável. Sem desistir, insistindo. Sem voltar atrás, contornando. Digo isto por experiência própria. Eu era feliz e eu sabia...E a matéria da qual sou feita há-de pôr-me novamente nessa estrada...E vou trabalhar no duro para isso. Não das 9h às 18h...Este contrato é comigo mesma e não impõe horários. Porque mais que trabalhar para viver eu quero trabalhar e ter uma vida...Uma boa vida!

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